Capítulo I
“Você é generosa demais para
zombar de mim. Se os seus sentimentos forem os mesmo de abril passado, diga-me
logo. Os meus sentimentos e desejos não mudaram, mas diga-me uma palavra, e eu
os silenciarei para sempre. “
Suspirei fundo ao escrever a
frase de Sr. Darcy para Elizabeth. Cada gesto, cada palavra que colocava em
minha história através do apaixonado cavalheiro me lembrava do meu. Thomas Lefroy.
Ele foi embora mais repentinamente da minha vida do que quando entrou, mas devo
dizer que essas indas e vindas não causaram menos impacto em meus sentimentos.
Ainda sinto um palpitar tão forte quando penso nele...
Lembro-me de seus olhos azuis e
da forma como olhavam para mim, fazendo-me sentir a pessoa mais especial desse
mundo. Lembro-me também desses mesmos olhos ao dizer adeus, da tristeza em que
estavam quando nos despedimos. Sentia falta do toque deles, que, mesmo sem
nenhum contato físico, digamos assim, parecia que vasculhavam cada canto do meu
corpo e de minha alma. Nunca nenhum olhar havia pousado sobre mim como os dele.
Nunca havia causado tanto impacto, nunca havia feito tanto sentido como faz
agora, que estou longe desse mesmo olhar.
Suspiro fundo e encosto-me à
cadeira, massageando minha têmpora na tentativa de aliviar o choro que sentia
que subiria em apenas alguns segundos se eu não o aplacasse. Nesse mesmo
momento, ouço uma batida na porta, e quando dou a permissão para que a pessoa
entre, vejo que é a empregada da casa, srta. Hill, se desculpando pela
interrupção e alegando que o motivo era uma carta que havia chegado para mim.
_Pode deixar em cima da cômoda,
vou lê-la depois. Sinto como se minha cabeça fosse explodir.
_Tudo bem, srta. Austen, apenas
espero que essa enxaqueca não a impeça de ler a carta, já que.. – sussurrou a
última parte. – foi assinada por Thomas Lefroy.
Na mesma hora, senti minha
espinha gelar, e me levantei com tanta pressa que quase derrubei as folhas de
papel de cima da mesinha. Por outro lado, meu corpo ficou automaticamente desastrado, pois ao
me levantar senti um murro no meu dedo menor do pé, e quando olhei para baixo,
percebi que o choro que estava anteriormente tentando conter, havia escapado na
forma de uma solitária lágrima, e o cúmplice dessa lágrima fugitiva foi o
maldito pé da cadeira.
_Pode deixar Hill, já vou lê-la.
Obrigada. –Respirei fundo e dei um gemido de dor.
No entanto, essa batida repentina
serviu para aliviar o suspense e o buraco imenso que alastrara meu peito assim
que ouvi o nome de quem havia assinado a carta. Meio mancando, ainda corri para
a cômoda e quando olhei para o envelope, reconheci a letra da pessoa que vem
fixando-se em meus pensamentos pelos últimos tempos desde sua partida.
Hampshire,
29 de abril de 1799
Querida
Jane,
Antes
que tire alguma conclusão precipitada, gostaria que soubesse que não
escrevo-lhe esta carta para que se martirize pelo que não aconteceu. Muito pelo
contrário. Embora pareça um tanto inusitado e sem sentido enviar-lhe uma carta após
causar-lhe tanto sofrimento, gostaria que a lesse até o final. E se em algum
momento da leitura minhas palavras causarem-lhe desconforto, tristeza ou
amargura, peço desculpas antecipadamente. Nunca me passou pela cabeça lhe
magoar.
Antes
de mais nada, expresso meus cumprimentos e esperanças de que esteja bem, de que
nem a sua boa aparência, seu bom humor, seu carisma ou alegria pela vida tenham
sido afetados pela minha partida (isso pode soar-lhe um tanto quanto
presunçoso, mas se eu bem lhe conheço, deve estar sorrindo desconcertada neste
exato momento, por pensar da mesma forma que aleguei acima). Muito tempo se
passou e você provavelmente deve estar casada, mas mesmo assim, existem algumas
coisas das quais preciso lhe dizer, e o farei nesta carta.
Eu
sei que um outro deve estar presente em sua vida, deve falar em seu ouvido
palavras carinhosas como eu fiz, ou mesmo admirar-lhe da mesma forma como meus olhos fizeram, e o fizeram tão bem, que cada curva do seu sorriso ainda permanece viva em minha memória. Aposto que ele deve tocar suavemente seu rosto, e tentar pegar em sua mão na subida das escadas, que deve correr junto com você e conversar discretamente enquanto dançam. E depois de todos esses gestos, ouso dizer que imediatamente vai se lembrar de mim. Eu
espero que se lembre. Espero que eu não tenha sido um romance passageiro em sua
vida, e talvez só tenha estas esperanças por não ser assim com você, já que eu ainda a tenho em meu coração.
Antes
que se zangue, peço desculpas, novamente. Desculpe-me pela intimidade com que
lhe escrevo esta carta, mas esse é apenas mais um dos elementos que tento usar
para tornar-lhe conhecidos os meus sentimentos. Eu não deixei de amar você. E,
infelizmente, tenho a impressão de que não abandonarei esses sentimentos tão
cedo. Não que amá-la seja algo ruim, mas tornou-se, já que tive de me casar com
Mary, e não era com ela que pretendia deitar-me todas as noites. Depois de
algum tempo, aprendi a conviver com esses sentimentos e aprendi a reprimi-los,
ficando apenas conformado com o que aconteceu e ver com bons olhos o que
passamos. Mas digo que é desmoronando essas paredes que repreendem meu coração,
que tenho a coragem, ousadia, e atrevimento em escrever-lhe.
Acho
que tudo isso ocorre por que os momentos tão pequenos de nós dois são
simplesmente muito grandes para serem esquecidos, mesmo que as areias do tempo
se deem ao trabalho de disfarçá-los. Mas lembre-se: disfarçar é diferente de
apagar.
A vida é como um rio, que segue seu curso sem esperar que o acompanhemos, e algumas pessoas são como uma breve correnteza; passam pela nossa vida rapidamente, mas causam um impacto tão grande que têm o poder de deixar-nos às avessas. Porém, você não, Jane. Você é uma tão forte e certa, que acompanha o curso do meu rio e causa reviravoltas a todo o momento em meus sentimentos. Uma hora eu amo você, mas estou olhando para a minha esposa; em outra, a culpa por traí-la em pensamento é tão grande que sinto raiva de mim mesmo. Gosto e depois desgosto do curso que o meu rio tomou. Por que meu amor por você é uma correnteza tão fatal, que é impossível não se deixar afogar nela. E uma vez nesse meio, eu nunca mais quis sair. Não consegui sair. Não consegui abandonar as águas de seus lábios, mesmo que somente em minha memória.
A vida é como um rio, que segue seu curso sem esperar que o acompanhemos, e algumas pessoas são como uma breve correnteza; passam pela nossa vida rapidamente, mas causam um impacto tão grande que têm o poder de deixar-nos às avessas. Porém, você não, Jane. Você é uma tão forte e certa, que acompanha o curso do meu rio e causa reviravoltas a todo o momento em meus sentimentos. Uma hora eu amo você, mas estou olhando para a minha esposa; em outra, a culpa por traí-la em pensamento é tão grande que sinto raiva de mim mesmo. Gosto e depois desgosto do curso que o meu rio tomou. Por que meu amor por você é uma correnteza tão fatal, que é impossível não se deixar afogar nela. E uma vez nesse meio, eu nunca mais quis sair. Não consegui sair. Não consegui abandonar as águas de seus lábios, mesmo que somente em minha memória.
Por
mais pervertido que isso possa parecer-lhe, meu maior arrependimento foi não
tê-la feito minha, em todos os sentidos. Ás vezes me pego acordado no meio da
madrugada com um copo de whisky em mãos, em pé ao lado da lareira, imaginando
como teria sido se tivéssemos feito amor. Como teria sido tocar-lhe e
mostrar-lhe o quanto eu te amo. Porém, em um lapso, lembro-me que eu tenho uma
esposa deitada em minha cama, com quem devo estar todo o tempo. Com um misto de
sentimentos, volto para lá e faço com ela tão ardentemente o que
gostaria de fazer com você.
Então,
Jane, espero que saiba que nessas noites, nunca serei inteiramente dela, na
verdade, nunca serei, em sentido algum. Pois a cada beijo dado, é o seu gosto
que sinto. Cada toque me lembra o seu. Cada movimento dado
por ela, eu imagino que é você. Quando olho nos olhos dela, é o seu reflexo que
eu vejo. Cada hora que passo junto dela nunca será melhor do que todos os
minutos ao seu lado.
Como
você sabe, mas faço questão em reafirmar, eu só me casei por obrigação.
Enquanto eu passo o dia com outra, saiba, é com você que eu queria estar. Hoje
e sempre, meus pensamentos serão seus, tudo que é meu, sempre será seu. Minha
vida, minha alma, e meu coração. Ou melhor, nossa vida, nossa alma, e um único
coração. Somos um.
Dessas
noites de amor com você em pensamento, nasceu uma linda menina, a qual tive a
ousadia de chamar de Jane Christimas Lefroy. Talvez tenha batizado-a de
tal forma por amá-la demais, assim como
eu amo você, e até mesmo para fazer com que eu me sinta menos cafajeste por
faze-la sofrer. Outra hipótese é de chamá-la assim para que você nunca saia da
minha vida, de uma forma mais concreta. Para que eu possa falar “Jane” em voz
alta pela casa. Para que eu possa dizer seu nome com o mesmo amor à ela, embora de formas diferentes, sem me
sentir culpado. Minha querida Jane, dou a você liberdade de escolher uma
hipótese entre as citadas acima, já que todas são teorias verdadeiras.
Se
houvesse outra maneira, eu escolheria você sem hesitar, mas não há. Gostaria
que soubesse e nunca se esquecesse: eu amo você. Segui em frente por que o rio
não para, mas, enquanto minha esposa é somente um gigantesco meandro, você é a
correnteza inteira, que me afasta dela e depois, a traz de volta para mim. Como
o rio sinuoso que minha vida se tornou.
Escrevi
essa carta para imaginar sua reação ao lê-la, e para despejar diante de você,
uma última vez, todos os meus sentimentos. Agora que já os exprimi, voltarei a
reprimi-los. Pelo menos até o momento em que você responda a esta carta como
uma última e singela forma de dizer Adeus. Por que você sempre sabe o que
dizer.
Do
seu, Lefroy.
Fanfic de minha autoria, baseada exclusivamente no filme Becoming Jane, e consequentemente, na vida de Jane Austen. Em breve, o segundo e último capítulo.