quinta-feira, 8 de março de 2018

Sangrando

Não sei o que deu na minha cabeça de transformar esse blog, aberto, em um diário. Que ideia, Maíra. Um terapeuta de graça, e mudo, que me deixa falar o quanto quiser e me permite ir e vir em diversos pensamentos confusos e contraditórios. Por que publicar se só eu sei do que estou falando? Quer dizer, será que sou só eu?

Esperava a parte da minha vida em que tudo fosse se esclarecer, mas às vezes parece que ela não chega nunca. "Cada um tem seu tempo". Eu deveria tatuar essa frase em mim, pra ver se talvez ao olhar pra ela o tempo todo ficasse mais fácil aceitar a realidade. 

Hoje me sinto deslocada. Como diria Adriana Calcanhoto, "eu não moro mais em mim". Não é fácil tentar se reencontrar num meio que antes parecia tão comum, mas que pela confusão de sentimentos vividos, tudo se misturou e ficou, enquanto fui e voltei e tudo continua bagunçado e sem sentido, com novos elementos. 

Acho que sinto falta de sangrar sozinha. Sentir doer só pra sentir que você consegue ir às sombras e voltar a luz, quando quiser. Essa é a graça das trevas: poder circular livremente, por que você não pertence à ela. Aprender a ver beleza nas coisas mais mórbidas, ver vida na carcaça. 

Acho que cansei de esperar. Tenho esperado as coisas acontecerem há meses, por que falta coragem pra reorganizar tudo. Nesse tempo, encontrei alguém. Alguém tão diferente de mim que não faz sentido. Não sei dizer exatamente o que nos faz dar certo, acho que era pra ser. Isso não quer dizer que eu não veja beleza em nós, eu vejo. Mas são tantos fatores difusos entre nossas personalidades que muitas vezes fazer dar certo gera desarranjos. Eu não vejo problema nesses desarranjos, por que sei que no fim das contas quero voltar pra mesma pessoa. Mas não confio na vontade da outra pessoa em ficar comigo, apesar dos desarranjos. Por sermos diferentes, acho que dói me adaptar em alguns fatores, por que sempre acreditei e senti que aquilo era o melhor. Romântica ridiculamente incorrigível, sempre esperei determinadas atitudes da pessoa que me acompanhasse, românticas, claro. Não constantemente, não o tempo todo, mas de maneira verdadeira e singela. 

Pra mim, meus sentimentos são claros, nítidos. Transparecem constantemente. Estão em cada vírgula, em cada piscada, em cada lágrima, em cada música, em cada atitude, em cada gíria, em cada sorriso; mesmo longe.

Reconheço que existem sentimentos retribuídos. Não sou ingênua, ignorante ou cega. Mas quando existem outras pessoas envolta, me questiono constantemente se sou desejada ali. Me questiono se sou entendida, se quero ser compreendida, se quero ser conquistada, pelo outro. Tento ao máximo não parecer um fardo, não parecer um ponto fora da curva. Tento não parecer a peça em evidência que não se encaixa no conjunto de um quebra cabeça que não pertenço. Tento ser eu mesma num meio que já me parece tão distante, sendo que ainda nem me encontrei, ou aproximei de mim.

Como é difícil amar uma pessoa fechada. 
Como é difícil amar uma pessoa fechada quando ainda se é inseguro. 
Como é difícil amar uma pessoa fechada quando se está inseguro.
Como é difícil amar uma pessoa fechada quando eu mesma tento não consigo me abrir. 
Como é difícil amar uma pessoa fechada quando o que faço parece não conseguir abrir o outro.