De repente, o seu consolo não surtia mais nenhum efeito.
O seu “bom dia”, ou a falta dele, já não fazia diferença. Eu não esperava pelo
seu toque, ou pelo momento de beijar. Beijos que eram harmônicos como o fogo e
a água, tequila com limão e sal, encontro de mar e rio, queijo com goiabada;
agora não passavam de um costume, vazio e automático. Seus braços já não são tão
quentes, e seus abraços não curavam. O que fazíamos antes de dormir não dava mais pra chamar de "amor", havia algum tempo. A distância já não trazia a ansiedade e o
prazer do reencontro. Os elogios, pareciam puxação de saco. A teimosia, antes tão altiva, agora só parecia uma implicância insuportável com tudo o que eu tinha a dizer. Tanto faz se você atrasa ou chega no horário. Não me preocupo mais se algo de errado aconteceu, diante da sua constante falta de pontualidade. Sua falta de habilidade na cozinha também já deixou de ser um charme. Sua bagunça pela casa agora atrapalha a minha organização. Me preocupo se o som alto incomoda os vizinhos. Pra ser sincera, nunca me identifiquei com o que você ouve. Não dou a mínima para o que você veste, para a sua combinação de cores claras e escuras, chamativa. Seus óculos de sol de estilo aviador, genéricos. Sua opinião sobre a "geração Z" já estão desatualizadas. Todas as suas piadas perderam a graça. Sua risada, aliás, não traz mais a minha. Já é difícil dialogar com você. Seus argumentos parecem distantes da realidade, perdidos sempre nas utopias que um dia construímos juntos, mas que hoje, nem sequer fazem sentido. O silêncio, por outro lado, me incomoda, quando é preenchido com a sua presença. Não vejo beleza em você, ou na minha rotina, sempre tão corrida. Aliás, nem correr pra longe de você me parece suficiente.
Será que todas essas flores que um dia enxerguei em você algum dia existiram, ou murcharam em algum de nós?
Será que todas essas flores que um dia enxerguei em você algum dia existiram, ou murcharam em algum de nós?